Vamos resumir (bem superficialmente) o que sabemos sobre Peter Pan, aquele garoto matreiro e levado, se levarmos em conta somente o filme da Disney?
- Vive na Terra do Nunca, onde enfrenta piratas liderados pelo Capitão Gancho com a ajuda dos Garotos Perdidos.
- Gosta de visitar esse nosso universo, buscando crianças que não estejam satisfeitas com o seu status quo atual e que queiram se aventurar em um lugar onde nunca crescerão.
- Não quer / tem medo / odeia esse negócio de virar adulto.
Agora vamos acrescentar um trechinho do livro Peter and Wendy, escrito por J. M. Barrie em 1911:
All wanted blood except the boys, who liked it as a rule, but to-night were out to greet their captain. The boys on the island vary, of course, in numbers, according as they get killed and so on; and when they seem to be growing up, which is against the rules, Peter thins them out; but at this time there were six of them, counting the twins as two. Let us pretend to lie here among the sugar-cane and watch them as they steal by in single file, each with his hand on his dagger.
(Tá lá, quarto parágrafo do quinto capítulo.)
Inferindo só com esse parágrafo:
- Vários Garotos Perdidos perderam a vida em batalhas com os piratas.
- Vários Garotos Perdidos perderam a vida porque desobedeceram a regra de “nunca crescer” e foram assassinadas pelo próprio Peter Pan.
Pessoalmente, nunca achei o Peter Pan um herói ou até mesmo “do bem”. Esse parágrafo de J. M. Barrie sempre me deixou com vontade de saber o que rola dentro da cabeça de um personagem que leva crianças para uma terra mágica com uma promessa mentirosa de que nunca crescerão. Nos finalmentes, ou elas morrerão em batalha ou serão assassinadas pelo seu líder.
Aí que entra Lost Boy, de Christina Henry. No livro ela conta a infância de um jovem chamado Jamie, que além de ser o primeiro Garoto Perdido e o melhor amigo de Peter Pan, sente um enorme orgulho do seu casaco vermelho e… bem, já sabemos onde isso irá acabar, né?
É um livro triste, com um texto seco que combina com cada uma das desgraças sofridas pelos seus personagens. Uma história muito mais interessante do que aquela que Joe Wright dirigiu em 2015.
E que combina muito mais com a versão de Peter Pan que eu montei na minha cabeça.